Ciência
15/06/2024 às 17:00•2 min de leituraAtualizado em 15/06/2024 às 17:00
Você provavelmente já viu em muitos lugares e contextos a clássica ilustração da "Marcha do Progresso". Em uma progressão da esquerda para a direita, ela mostra a cadeia evolutiva da humanidade e como as espécies se sucederam até nosso estado atual.
Ela começa com um primata, o Dryopithecus, e passa por figuras desde os neandertais até os Homo sapiens modernos. Ao longo da "evolução", a figura retratada ganha postura, feições humanas e até uma clava para simbolizar a criação de armas.
A fama dessa imagem é tamanha que, além da replicação no formato original, ela já ganhou paródias, adaptações e reinterpretações — a ideia é usada há décadas em comerciais, propagandas anti-guerra e memes nas redes sociais.
Só que, cientificamente falando, essa retratação é imprecisa. Pesquisadores da área criticam frequentemente a sua fama, em especial por propagar uma ideia incorreta sobre a evolução.
O primeiro desenho que teria inspirado a Marcha do Progresso foi registrado em 1863, na obra Evidências sobre o lugar do Homem na Natureza, de Thomas Henry Huxley. A ideia dele era simplesmente comparar a estrutura óssea de primatas e humanos, usando as ideias de Darwin publicadas em A Origem das Espécies meia década antes. A organização, porém, serviu de inspiração para futuras ilustrações.
Já o criador da Marcha do Progresso é Rudolph Zallinger. Em 1965, ele desenhou a sequência originalmente chamada de O Caminho para o Homo sapiens para a Life Nature Library, uma série de livros da Time-Life Books.
O desenho original é composto de 15 espécies diferentes, cada uma acompanhada de um texto descritivo. Porém, o que ficou mais famoso é uma versão "resumida", com as páginas dobradas para trazer apenas seis integrantes: Dryopithecus, Oreopithecus, Ramapithecus, os neandertais, os Cro-Magnon e o Homo sapiens.
O problema de acadêmicos com a Marcha do Progresso envolve a interpretação mais básica da imagem isolada, sem o acompanhamento de um texto. A evolução humana é, na verdade, muito mais complexa do que o representado pelo desenho.
A ilustração seria uma ideia simplista — e hoje já tida como equivocada — sobre a evolução da humanidade ser linear, com espécies transitando para novos estágios com mudanças bastante radicais entre si.
Além disso, ela passa uma noção direta de "transformação" do primata em humano que data de séculos atrás e hoje já é superada — inclusive pela ideia de linhagens e a descoberta de espécies que conviviam entre si e não eram de uma mesma cadeia evolutiva.
Por fim, a Marcha do Progresso passa uma certa hierarquização que também não é verdadeira. Apesar de hoje ser usada como símbolo de melhoria e até ser um elemento da cultura pop, a imagem original, na verdade, só comprovava a complexidade da Biologia e a adaptação das espécies ao longo de milhares de anos na Terra.